terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Tragédia em Santa Maria, agilidade demasiada nos sepultamentos.

Hoje, passados três dias do ocorrido em Santa Maria, cumprida minha missão de auxiliar naquela localidade dando suporte material, humano e técnico, passo a encarar o ocorrido como cidadão, refletindo sobre causas e conseqüências, buscando explicações sobre o que acompanhei, seja pelo noticiário, ou no local junto ao ginásio de esportes da cidade.

Desde as primeiras horas da manhã de Domingo ao acompanhar a reportagem na rede Globo e Globo News, fui tomando por grande tristeza como todos que souberam, de forma pratica e na busca de auxiliar meus colegas de Santa Maria e do restante do Estado, fiz contato com as empresas AM Brum e Cauzzo, me colocando a disposição, assim como os produtos do Laboratório São Carlos de Somatoconservação.

Ainda assistindo as reportagens, ouvi o Cel. da Brigada Militar – Corpo de Bombeiros – GUIDO, afirmando categoricamente rede nacional que havia superlotação do local, que os ocupantes foram impedidos de sair até que pagassem as comandas, que fora utilizado artefato pirotécnico no local que ocasionara o incêndio, que os extintores não estavam funcionando, tudo isso por volta das 10 horas da manhã.

Foi montado a central de crise com os comandos do IGP, Policias Civil e Militar, Secretaria da Saúde e Prefeitura, com certa agilidade, que conforme noticiado por volta das 12 horas.

Por volta deste mesmo horário os corpos estavam praticamente todos no ginásio de esportes da cidade, aguardando o reconhecimento e as devidas liberações, que se iniciaram próximo às 14 horas.

Fora montado neste local uma verdadeira força tarefa multidisciplinar com médicos, psicólogos, enfermeiros, policiais, agentes funerários e muitos voluntários.

Já no inicio desta mesma da noite alguns corpos já estavam sendo sepultados em Santa Maria, muitos outros viajavam para suas cidades para homenagens e posterior sepultamento.

Enquanto alguns familiares decidiram velar seus entes no próprio ginásio, outros optaram por fazê-lo em capelas da cidade.

As liberações era feitas de forma dinâmica, podendo chamar até de frenéticas, corpos e mais corpos, passam entre as diversas barreiras de contenção que havia entre os ginásios, com urnas funerárias sendo levadas de um lado para o outro, ora vazias, e ora já com mais um corpo.

No terceiro ginásio, agentes funerários vestiam os corpos, enquanto voluntários seguravam lonas pretas para evitar o constrangimento de quem passava por perto, enquanto eram vestidos os corpos, noutro canto do mesmo galpão, famílias velavam seus entes e amigos.

No cemitério municipal, homens trabalhavam para construir e limpar sepulturas a fim de abrigar um contingente de novos hospedes equivalente a quase um mês normal naquela cidade.

Na tarde de segunda feira, terminava o velório coletivo do ginásio, passando a ser desmontada a estrutura improvisada que ali havia.

O que pude perceber de forma muito clara e positiva é que a solidariedade tomou conta do Pais, Estado e principalmente do Município, pessoas se doaram de forma poucas vezes vista.

Do ponto de vista negativo aponto algumas questões para refletirmos.

1- declarações feitas em momento indevido, poderiam trazer ainda mais trauma a cidade e seus moradores;

2- a agilidade nas liberações nem sempre é eficaz, ainda mais nestes casos onde o Luto deve ser trabalhado, elaborado, deveriam ter dado tempo as famílias para sofrer o momento da perda, com velório de tempo mínimo de doze horas;

3- todos os corpos antes de serem liberados deveriam ter sido submetido a processo de higienização e conservação, pois a aparência é fator importante para evitar ou diminuir questões traumáticas;

4- a emissão das Declarações de óbito no local para facilitar os registros de translados;

Já em outra esfera tivemos prisões preventivas decretadas, sob a alegação de facilitar as investigações, ou seria por clamor público?

Qualquer uma das justificativas entendo que serviu assim como as declarações do Bombeiro relatada no inicio, para desviar o foco.

O foco da questão é se houve irregularidade no município na liberação do local, ou se os bombeiros vistoriaram de forma correta o local.

Apenas no segundo momento, após a conclusão do inquérito será possível ter as respostas e apontar os culpados, e ainda assim, com o direito a ampla defesa dos envolvidos.

Hoje pela manhã acompanhei o pronunciamento de outro oficial do Corpo de Bombeiro, com muita coerência, cautela ponderou muitos pontos e justificou outros dizendo que ao seu tempo deve s avaliar tudo que aconteceu. Igualmente o Delegado Regional da Policia Civil, que informava que há muito que se investigar para concluir o inquérito.

Com as liberações e sepultamentos muito rápidos, o objetivo estava em se mostrar solidariedade para as famílias, contudo isso poderá trazer traumas e seqüelas a curto, médio ou longo prazo, pela falta da elaboração correta do luto.

Há fazes a serem superadas durante a perda, Negação, Perseguição, Aceitação, tendo estas como básicas, há profissionais Psicólogos que apontam como havendo sete e não três, que entendo ser um desdobramento destas principais, mas o mais importante é que se faz necessário um tempo mínimo para iniciar este processo e mudanças de fazes.
O momento do choro no velório é único, e deve ser feito ali, ao lado do corpo sem vida, é a forma que se inicia o processo da perda e do luto, por tudo que ocorreu isso também foi tirado de forma não proposital destas famílias e dos amigos.

A partir de hoje, as autoridades tem todo tempo do mundo para buscar causas para as conseqüências, alem dos culpados, espero se constatado negligencia, imprudência ou imperícia de quem quer que seja, setor privado ou público, que estes recebam o que a lei determine.

Quanto aos ainda internados esperamos que corra tudo bem, pois estão sendo tratados com o que há de melhor em nosso País, com a solidariedade de outros paises.

Percebo que saí diferente do que quando entrei neste episódio trágico de Santa Maria, isso como profissional, cidadão e pai.

Com este artigo encerro este episodio, esperando que na venhamos mais passar por isso.



Saúde e Paz



Paulo Coelho







domingo, 27 de janeiro de 2013

Tragédia em Santa Maria, traz a tona uma discução

O Brasil esta preparado para enfrentar casos como este ocorrido em Santa Maria?
foto:folhadoserao.com.br  
A resposta é não, nenhuma cidade consegue absorver um elevado número de ocorrências como esta, seja para atender feridos, seja para falecimentos.
Na maior cidade da américa do sul, São Paulo, onde ocorrem mais de 300 óbitos dia, se ocorrem um acidente de proporções da magnitude deste do centro do estado do Rio Grande do Sul, ou como aquele do voo da TAM, também sofreia para atender esta demanda. Considerando ainda que a proporção do tamanho da cidade é ligado ao número de pessoas que estarão nas casa noturnas, que é o que se trata no momento, quanto maior a cidade maior o risco.
Significa que se numa casa noturna em Santa Maria, por exemplo, a capacidade é para 1000 pessoas, em Porto Alegre poderá ser de 2000, e em São Paulo, poderá ser para 5000, o que dificulta muito mais, quanto maior o tamanho da cidade, considerando que os jovens tendem a estar nos “lugares da moda”.
Mas isso também serve para casos de desastres aéreos, marítimos e terrestres, que podem vitimar muitas pessoas numa única vez.
O melhor é combater tais possibilidades através de normas de seguranças e protocolos, mas quando ocorre o pior o que fazer?
Hoje, no Brasil não temos nenhum programa para amparar estas situações de crise de forma completa e multidisciplinar, o que deveria ser criado com urgencia, um programa com a defesa civil nacional e regional, serviços de psicólogos especializados em perda e luto, com IML/DML e Tanatopraxistas – profissionais que cuidam da preparação e conservação de cadáveres -, todos formando uma força tarefa, que sejam convocados e mobilizados, sendo levados para o local que os necessitem. Esta força tarefa poderia ser semelhante a equipe de desastre em terremoto que existe no México. A voluntariedade pode ser uma forma de viabilizar esta construção.
Acredito que mesmo o Exército Brasileiro, Marinha e Aeronáutica, em missões no Brasil e no exterior deveriam ter Tanatopraxistas em seus quadros, para que em caso de necessidade, possa repatriar seus militares.
Cabe ao Governo Federal pensar nestas questões que pode ocorrer a todo momento, por mais que haja trabalho de prevenção, para que no momento de necessidade a população tenha suporte, no mínimo para receber seus corpos para velar e se despedir de forma ágil e sem riscos a salubridade publica, sei que esta declaração pode perecer simplista, mas tenham certeza que dentro desta situação de perda, uma das formas de amenizar a dor é através da despedida digna de seus familiar, mesmo sabendo que a dor permanecera, mas que o luto inicia a ser elaborado, com este momento, encerrando este ciclo inicial.
Saúde e Paz
 
Paulo Coelho

Mobilização e Solidariedade para amenizar a tragédia em Santa Maria RS

foto: site G1.com
Autoridades como Prefeito, Governador do Estado e Presidente da Republica se dirigem a cidade para prestar solidariedade, que é um fato que deve ser elogiado pela demonstração de carinho e respeito por quem perdeu familiares e amigos nesta tragédia ocorrida em Santa Maria.
A Associação Brasileira de Tanatopraxia, e ANEF, desde sedo, fez contato com duas empresas da cidade para se colocar a disposição para auxiliar com serviços técnicos e produtos. O objetivo é possibilitar a eficaz preparação e conservação dos corpos.
Em momentos de consternação a união e mobilização é o mais importante para amenizar a dor dos envolvidos.
Neste domingo, 27/01/13, a cidade de Santa Maria – região central do Rio Grande do Sul, sul do Brasil, acorda sob o impacto da noticia de mais de 90 mortes numa casa noturna, que se iniciou por volta das 02:30 horas da manhã.
Por volta das 09:00 horas, já chegava a 180 mortes e mais de 60 feridos sendo atendidos nos hospitais e Posto de Saúde do município.
As 10:45 chegava a 200 óbitos.
Antes do término deste artigo, 11:15, já chegava a 245 óbitos, para nossa consternação.
Como sabemos, a demanda de uma cidade como Sta. Maria tem demanda mensal próxima a 400 óbitos mês, significa que num dia apenas ocorreu um número muito maior que a capacidade das empresas.
O DML – Departamento Médico Legal, que realiza pouco mais de 15 atendimentos mês, terá uma demanda absurda, mesmo que o caso de necessidade seja basicamente de Verificação da causa, sem necessidade de abertura craneana, conforme protocolos, mas a identificação dos corpos irão ocasionar a maior demora nas liberações.
O Plantão dos cartórios e o tempo destes registros serão outro fator de demora.
As preparações destes corpos será em média após posto no local de preparação de quatro horas, para higienizar e preparar, sem que haja necessidade de reconstituição especial.
Para esta demanda o ideal seria uma força tarefa de mais de 100 profissionais e material adequado para Tanatopraxia, onde todos os corpos deveriam passar pelo processo de estabilização da matéria, por questões sanitárias e de apresentação.
Isso significa que até no mínimo quarta feira, ainda estaremos vivendo estes momentos de angustia, velório e sepultamentos.
Como não há pessoas suficiente nas empresas – numero de profissionais, o ideal seria a convocação de voluntários que pudessem ajudar nestes casos extremos.
Queremos deixar aqui registrado nossa dor como brasileiro e gaúcho, por estas perdas, desejamos a todos muita força para superar este momento, que nos sirva para alertar sobre locais de festas e aglomeração de pessoas.  
Saúde, Paz e Força a todos nós!
 
Paulo Coelho